A presença das mulheres no mercado imobiliário não é novidade, mas só recentemente elas têm alcançado posições de maior protagonismo, como investidoras
É inegável o longo caminho que ainda temos que percorrer, enquanto sociedade, em prol da equidade de gênero. Ao colocarmos uma lupa nas esferas profissionais, em especial, conseguimos identificar desafios ainda velados ou mascarados. É notória, e estatisticamente comprovada, a presença majoritariamente masculina em algumas profissões firmadas por muitas e muitas décadas. Neste caso, estamos abordando apenas a falta da presença feminina. Imagina citarmos, então, a ocupação das mulheres nas mesas onde as decisões corporativas são tomadas?!
E o meu foco aqui vai para os desafios do mercado imobiliário que, infelizmente, não são diferentes. A presença das mulheres, seja como profissionais atuantes no setor, seja como consumidoras, nesse mercado não é nenhuma novidade. Mas é relativamente recente. Pode não parecer, mas apenas no final dos anos 1950 a lei permitiu às mulheres exercerem a profissão de corretora imobiliária. Isso significa que as profissionais que atuam hoje fazem parte das primeiras gerações de corretoras da história do Brasil.
Há que se refletir também sobre o peso do sexismo no setor imobiliário. Em uma pesquisa DataZAP+ recente, corretoras apontaram a diferença de oportunidades entre homens e mulheres, a dificuldade de conciliar vida pessoal e profissional e a discriminação do gênero no segmento como principais obstáculos para sua evolução profissional. Esses três problemas foram relatados por cerca de um terço das entrevistadas. A mesma pesquisa apontou que menos da metade delas (47%) afirmou jamais ter passado algum constrangimento no ambiente de trabalho por ser mulher.
Esses dados são ainda mais significativos quando sabemos que, para nós mulheres, outras camadas se somam ao gênero e impactam com grande ênfase a nossa trajetória e carreira, como regionalidade, condição social e conjugal, por exemplo.
Já na ponta do consumo, até para ser proprietária, compradora ou locatária de um imóvel foi necessário enfrentar desafios. Isso porque, embora hoje sejamos responsáveis pela gestão do nosso próprio patrimônio, além de autônomas e tomadoras de decisão, o termo “Pátrio Poder”, que começou a vigorar no Código Civil de 1916 e institucionalizou que o chefe da família era o homem, só deixou de ser usado em 2002.
Portanto, vale outro dado levantado pelo DataZAP+ que mostra que nós mulheres representamos 62% de quem busca imóvel, ou seja, um avanço e tanto. Por outro lado, chama a atenção, o peso enorme do critério “segurança” na avaliação delas sobre o imóvel. Segundo o estudo, 98% das mulheres mencionam esse fator como principal motivação na procura pelo lar.
Com as informações em mãos, o mercado deve caminhar para estar cada vez mais atento e preparado para atender todas as demandas desse público. Creio que a melhor estratégia é ouvir, de forma empática, humana e gentil, esse público.
Nesse sentido, é possível observar uma tendência à formação de comunidades e redes de apoio no setor, em que profissionais mulheres atendem e são recomendadas por consumidoras, proprietárias, investidoras, fomentando a troca de experiências e discussão de demandas específicas e apoiando a inserção cada vez maior da mulher, seja atuando como profissional ou como decisora.
Reconhecer e visibilizar a mulher bem como seu papel no setor, promovendo a equidade, assim como em muitas indústrias, são, sem dúvida, chaves para potencializar o mercado imobiliário.
* Cristianne de Sá Alves é Head of B2B Marketing at OLX Brasil
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